Ter tesão por alguém que está passando na rua, num ator/atriz que está assistindo, sonhar com alguém que não conhece ou até mesmo com aquela pessoa que você nunca tinha pensado eroticamente, mas que nos sonhos o sexo é selvagem como você gosta, carinhoso na medida certa. Será que é traição? Será errado pensar, sonhar, ter tesão por outras pessoas que não seja meu companheiro(a)?
A importância da infidelidade para um relacionamento duradouro
Existem muitas listas com passo-a-passo sobre como ser feliz num relacionamento e faze-lo durar, tais como: “Especialista sugere 10 ideias para um relacionamento duradouro e feliz” ou “7 Passos para construir um relacionamento duradouro”, o passo-a-passo é extenso, e tediosamente cansativo.
Que tal falarmos sobre o medo, o perigo, a aventura que cerca a possibilidade de dar tudo errado? Focar no que é certo e errado nos deixam ansiosos, apreensivos sobre o que pensamos ou até sonhamos, como controlar esse tesão pelo o que parece proibido?
Alguns podem pensar que uma injeção de ciúme é o único remédio para salvar uma relação arruinada pelo hábito, outros, que o vínculo do casamento é tão pesado que é preciso dois, as vezes três, para carrega-lo… quando duas pessoas de tornam um casal demarcações são traçadas, mesmo que não seja dito, o que eu tenho a liberdade para fazer sozinho e o que tenho que contar? A sexualidade agora também tem que ser plenamente compartilhada? Em geral, só temos algumas respostas por tentativa e erro, mas o marco da maioria dos relacionamentos monogâmicos é a fidelidade, e discutir a fidelidade implica que ela esteja aberta a discussão, temos medo de dar a possibilidade ao outro de pensar além do “nós” não é mesmo? Ter a perspectiva de traição causa tristeza, então aprendemos a negar o assunto como forma de evita-lo.
Essa exclusividade que buscamos em relacionamentos monogâmicos tem relação com nossas primeiras relações de intimidade: a mãe (ou quem tenha feito o papel de mãe), para o recém-nascido a mãe é tudo ao mesmo tempo, inseparável, sem limites: sua pele, seu seio, sua voz, seu sorriso, tudo é voltado para ele. Mas será que essa união completa que buscamos não é uma fantasia? Para a criança a mãe é a razão de tudo, mas essa mãe não é fiel, ela tem até um amante ciumento que você chama de “pai”.
A questão é: na fronteira de cada casal mora o terceiro, Carl Gustav Jung, que foi um psiquiatra e psicoterapeuta, já afirmava sobre a relação triangular arquetípica, onde nosso arquétipo é formado de forma triangular, mesmo que estejamos com nosso parceiro (a) existirá um terceiro mesmo que seja na imaginação. Pode ser aquele ex-namorado cujas mãos você ainda se lembra, aquela garota do caixa no supermercado, o professor que você flertou quando foi buscar seu filho na escola, ou até a atriz pornô ou garota de programa, sejam ou não tocadas. Real ou imaginário, o terceiro ou a terceira é o eixo sobre o qual o casal se equilibra, é o nosso desejo pelo o que está do outro lado, o proibido.
O que é a infidelidade? É o terceiro, mas a esposa ou o marido também é, como? O terceiro só existe com a presença do segundo, o ciúme dos amantes depende de haver o cônjuge, sem ele a paixão e a loucura perdem a força. O verdadeiro teste de um amor adultero é a retirada do obstáculo, desse segundo, por isso, que tão poucos casos de amantes sobrevivem quando o casamento inicial se desfaz.
Para formar um casal, precisamos ser três, pois é o outro que solda o relacionamento a dois. Muitos se recusam a reconhecer o terceiro, insistem que não tem necessidade de outros, é nesse “amor perfeito” que revela a fragilidade diante da presença do outro, mesmo em fantasia, mostra que o outro tem força suficiente para destruir esse relacionamento.
Casamento puro e sociedade promíscua
O que é supostamente normal, aceitável e esperado sobre um relacionamento em nossa sociedade? A monogamia é a norma e a fidelidade sexual é considerada um compromisso maduro e realista. Contraditoriamente, vivemos num mundo que não ajuda muito a quem procura se conformar com o que tem, sempre queremos o que aparece de melhor: a última novidade, a mais jovem, ou queremos mais: mais intensidade, mais variedade, mais estímulo. Não somos encorajados a nos satisfazer com o que temos, assim, buscamos mais gratificação e toleramos cada vez menos frustrações, e essa fantasia da variedade infinita é frustrada pelo compromisso.
Não faço aqui um endosso a infidelidade ou traição, mas um convite a reflexão sobre o quanto somos instigados a suprir nossos desejos, mas quando nos casamos temos que, de que uma hora para outra, renunciar a tudo que nos encorajaram a querer.
Convite ao terceiro
Há pessoas que não ignoram a sedução do proibido, que até mesmo afirma sua importância “Eu jamais ia querer que ele fosse infiel, mas saber que isso é possível me mantém atraída por ele.” Ou até mesmo “Minha namorada é linda. Os homens vivem dando em cima dela. Adoro que ela desdenhe isso, pois está sempre me escolhendo.”, percebam que o terceiro nem sempre precisa ser real ou de fato tocado, é essa “sombra” da possibilidade que ascende e reafirma o tesão que temos pelo nosso companheiro (a), esses casais compartilham fantasias, leem juntos literatura erótica, ou recordam o passado, sem o medo da sexualidade do outro prejudicar a sexualidade do casal, a aceitação do terceiro abre um espaço erótico no qual o Eros não precisa ter medo de definhar.
Sugestão? Tenho uma, que enxerguemos a monogamia não como uma certeza, mas como uma escolha. Assim ela se torna uma decisão negociada, e por que não renegociar os termos do relacionamento sempre que acharem pertinente?
Diga-me, como você lida com a sombra do terceiro? quais são os seus reais desejos?
Veja também: Saúde Sexual |
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